domingo, 6 de novembro de 2016

Coragem Versus Rotina

Venho me sentindo um tanto quanto robótica
Sigo meu programa do dia-a-dia
Tudo fora dele é uma ilusão de ótica
Me escondi atrás da minha antiga covardia

Tenho medo de sair do programa
Um passo em falso
Meu mundo desaba
Meu olho deságua

Como num robô
O elemento vivo é escasso
Eu me perco no metal
Na mesmice letal
Dessa vida mundana

Meu eu robô vive da rotina
Porque a vida não para
Meu eu humano vive pelos meus dez segundos de coragem
Em busca da eu que virou miragem

Num trabalho diário de formiga
Eu espero que os segundos de coragem se transformem em horas
E que os segundos desse programa que me castiga
Virem apenas memórias
E que eu as esqueça no limbo da mente
Que eu me perca na coragem
Muito mais envolvente
Que eu me encontre
Novamente

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Eu sou mar

Se o mar me emprestasse uma onda
Fazendo o refresco de um banho ser eterno
Ou se ele me doasse um pouco do seu azul
Pra eu me pintar numa noite fria de inverno
Eu recusaria
Não é meu

Se o céu me emprestasse suas nuvens
Fazendo a chuva chover a minha reveria
Morreria de sede se preciso fosse
E mais uma vez, eu recusaria

Se as florestas me dessem, de boa vontade
Todo o seu verde pra eu florir o meu jardim
Ou se entre tantas espécies
Escolhessem um pássaro que cantasse só pra mim
Eu recusaria

Eu recusaria todo azul e todo verde que não me diz respeito
Pois cabe a mim o cinza das cidades
E a fúria das tempestades
O preto e branco que me angustia o peito
Nasci humano

Mas se fujo procurando a paz na cor
Ainda assim, não quero posses
Troco a posse pela harmonia
O ter natureza, pelo ser natureza
Soberania
Por sutileza
  
Compreendo que o verde da floresta
É o mesmo verde dos meus olhos
O castanho do cabelo que balança rebelde na testa
É o mesmo que pinta nas árvores os galhos

Eu mergulho
E no vai e vem das ondas
Não tenho medo de me afogar
O ar que te balança, mar
É o mesmo que me faz respirar
Somos um só

quarta-feira, 4 de março de 2015

Quando Ela Chama

Estalos
Clic clic

Eu tenho estalos da minha escrita
Entre meus dias corridos
Entre equações e átomos perdidos
Eu tenho estalos dos meus versos e dos meus contos
Porque escrevo o cotidiano
Tento a transformação
Do dia-a-dia mundano
Em rimas criptografadas

Sussurros
Shhhshh

Eu ouço sussurros da minha escrita
Porque penso versando
Verso em pensamento
A reflexão é a vida em rima
Porque a rima pede mais que um simples acontecimento
A rima pede o sentimento do fato
Pede o que transforma
Eu rimo no pensamento
Por que esse é o meu momento de paz

E entre sussurros e estalos
Eu volto, vez em quando,
Para o aconchego da minha rima
E deixo minha vida se encontrar
Com uma palavra com a qual combina.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Uma Gota De Amor Que Respinga

Houve um tempo em que eu escrevia. Sentava na varanda das casas, na areia das praias, nas pedras, nas calçadas e nos bancos das praças, sentava e escrevia. Escrevia o mundo a minha volta e o mundo dentro de mim. Escrevia as pessoas e me descrevia nelas. Naquele tempo, eu escrevia.
Houve tempos, dentro desse tempo distante, em que somente escrever não me era suficiente, então eu escrevia sobre o amor. Porque o amor é delicado e intenso, e o que se escreve dele é mais do que se pode escrever sobre qualquer outra coisa. Eu escrevia sobre amores de outros, amores que queria que fossem meus, amores meio meus e amores que nunca seriam de ninguém. Escrevia sobre o amor que eu tinha e sobre o que eu não tinha porque para o poeta só o que importa é escrever. Escrevia porque alguma coisa em mim não queria ficar em mim. Alguma coisa se contorcia dentro do meu corpo e cultivava minha mente com frases dispersas que de um jeito ou de outro não deveriam estar ali. Então eu escrevia. Encarava folhas de papel e telas vazias, sentia o parar do tempo e o silencio do ar. Mergulhava fundo nas palavras e soltava meus monstros transfigurados em frases muitas vezes floridas com esse amor que eu tinha, mas não podia ficar em mim porque nunca era totalmente meu.
O tempo veio e revirou meus dias, minhas memórias, minha mente e minha vida e depois foi embora sem me deixar nem se quer um minuto livre, quiçá uma hora ou um dia. Juntei os rastros que o tempo deixara em sua passagem por mim na esperança de ter um tempo que pudesse ser meu, que pudesse ser meu para deixar que em palavras os céus se abrissem. Mas nesse tempo eu dormi, dormi porque o cansaço da vida me tomou o pensamento. Me tomou monstros, palavras, versos e o meu pensamento se tornou cansado, já não queria atravessar longos caminhos pelo meu sono conturbado ou pelo meu dia atarefado. O meu pensamento adormeceu e eu esqueci de escrever. Minha necessidade gritante de juntar palavras e palavras cessou e minha vida virou o meu conto. Não foi de todo ruim nem de todo bom. Eu vivia o bom e o ruim do escrever. O escrito agora era dito e feito dia-a-dia. Era vivido. Era vívido.
Mas hoje, em especial, eu quis voltar. Eu quis voltar porque alguma coisa dentro de mim gritou e de alguma forma tentou sair. Não quis sair de todo nem quis mostrar muito a cara ou corpo, mas queria mandar um “alô”, e eu achei que fazia certo deixar. Deixar levantar a mão e acenar para os de fora. Acenar alguma coisa sobre o amor. Mas não um amor que urra pra se desvencilhar de mim, um amor que só preenche páginas e páginas e depois se vai. Esse amor, esse amor é meu. E talvez por isso seja tão difícil escrever sobre ele. Esse amor não quer sair. Esse amor quer ficar.
Esse amor, ele não quer ser escrito, descrito, entendido e subentendido pra depois morrer em mim. Esse amor, ele quer viver. Em algum lugar aqui ele quer ficar e quer ficar por um bom tempo. Hoje ele quis se mostrar, só quis acenar e esguichar um pouco da felicidade que tem. Felicidade essa que é plenamente minha. Porque o poeta esconde o que é dele.  E mesmo o que quer dizer, não quer dizer ele mesmo. O poeta quer que as pessoas saibam sem que se diga muito. O poeta inventa rimas e frases desconexas, separa tudo em versos e estrofes para, a uma primeira vista, não dizer nada de verdade. Ali no meio, porém, no rearranjo das estrofes, no recitar dos versos, ali está o que o poeta diz. E não importa a ele quem consegue ler, importa é que está escrito. Está dito. Saiu. Sumiu de mim.
Eu, como poeta adormecida que sou, jamais vou deixar que o verso que é puro sentimento tome esse amor de mim. E aqui, no que eu digo, eu digo pouco. Porque eu não quero dividir esse amor. Eu não quero. Não quero que suma de mim pelas palavras. Não quero que seja explicado nem que por outros seja sentido, mesmo que seja demais pra mim. Mesmo demais ele é meu. E tudo que eu posso dar em palavras não passa de um filete, um raio fino, uma gota, um resquício, uma fuligem de amor. Não me importa que seja demais pra mim. Porque é meu. E por ser meu eu quero que me inunde.
  

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Sangue Sujo de Amor

Eu estava com lágrimas nos olhos quando ele foi embora. Lembro muito bem. Ele saiu caminhando calmamente de mãos dadas com uma menina loira sorridente que usava vestidos floridos. Lágrimas jorravam dos meus olhos opacos e pintavam meu rosto pálido de preto. As muitas gotas escorriam carregando minha maquiagem escura e mascarando minha mente obscura. As lágrimas levavam a solidão e a tristeza de mim, deixando apenas ira e insanidade. Nos olhos escuros eu escondia a visão perfeita daquele momento: urrando, eu corria e fincava uma estaca naquelas mãos entrelaçadas num ato grosseiro e insano. Uma estaca (mal)feita com minhas próprias mãos. Aquela que eu guardava na terceira gaveta da cômoda do nosso quarto sujo e bagunçado, junto com alguns maços de cigarro e uns CD’s pirateados que você comprou daquele seu amigo nojento cheirador de pedra. Para que guardar uma estaca no quarto? Bem, aí estava sua resposta.
Como eu queria que aquilo estivesse acontecendo. Eu queria ver, eu queria sentir a estaca perfurar lentamente a mão dele e daquela pequena ovelhinha branca. Eu queria ver as farpas resultantes da minha pouca habilidade como artesã ferirem a pele macia e hidratada da sua nova namorada. Queria sentir o cheiro do sangue escorrendo por aquelas unhas feitas e observar o líquido sujar seu lindo esmalte rosa bebê. Eu queria ver o terror estampado nos rostos felizes dos dois amantes. Queria ouvir o grito de dor. Queria ser tentada a sentir pena.
Naquele momento, mais que tudo na vida, mas do que um dia quis que você não tivesse ido embora, eu queria, do fundo do meu coração, que ambos estivessem mortos. Bem ali na minha frente: mortos. Os corpos deitados, as duas cabeças numa única poça de sangue, um olhando para o outro. As mãos eternamente dadas com o auxílio do meu artefato de madeira. Descansando para sempre com a lembrança dos olhos do outro a morrer ao seu lado.
Eu enterraria os corpos, então, e não choraria uma lágrima pela morte dele. Gastaria o dinheiro idiota que ele havia deixado na minha casa convidando os amigos nojentos dele para comemorar a sua morte. Estariam todos bêbados ou drogados demais para lamentar. Eu teria uma overdose naquela noite com a esperança de jamais acordar de novo. Não me importaria morrer porque não havia nada a perder. A única coisa que me sobrava nesse mundo imundo estava caminhando para longe de mim sorrindo para uma garota que não se parecia nem um pouco comigo.
Foi assustador como a revelação do nada que eu vivia fez com que meu choro parecesse um grito desesperado. Lembro-me de ter visto a nova senhora Torres olhar levemente para trás, desviando o seu olhar e me encarando. Lembro-me de você ter acompanhado o olhar dela e murmurado qualquer merda que não me interessava. Lembro-me de os dois dando-me as costas novamente com uma expressão clara de pena nos rostos. Naquele momento, então, mais que vê-los sem vida, mortos e enterrados, eu mesma queria matá-los. Queria ver a vida sumir dos seus semblantes alegres e, com uma vontade que ardia nos meus olhos, queria que a culpa fosse minha. 

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Volta Doce

Não escondo meu mau jeito
Em escrever rimas de amor
Não escondo minha fina veia de poeta
Sumindo no meu braço branco
Por não usa-la, há tanto

Mas achei que tu valias
Esta volta sincera
Estes versos sem som
Esta escrita desajeitada

Achei que valias
A vontade secreta de escrever novamente
Como achei que valias
O meu sim repetido
Naquele lugar escondido
Numa noite qualquer

E se não fosse sobre ti
Não seria nada
Pois és tu quem vagueia pelos ares
Dos meus versos
Pois és tu que me enche de poesia
E abarrota de sorrisos o meu dia

Achei que valias
Até os versos sem rimas
Ou as linhas erradas
As palavras jogadas

Eu não me enganei.

domingo, 3 de março de 2013

Escrever Esquecer Escrever

Aos sete anos eu vi meu pai dar um tapa na cara da minha mãe. Não conseguia dormir e levantei da cama para procurar aquele aconchego que só as mães têm, aquele que nos faz dormir quando temos sete anos. Abri a porta do quarto dos meus pais e lá estava ele atritando sua mão enorme no rosto delicado da minha mãe. Ela caiu no chão, ele gritou. Eu tinha sete anos e não queria que meus pais se separassem. Eu tinha sete anos e foi a primeira vez que escrevi no caderno de capa vermelha. O caderno das coisas que não contamos a ninguém.
 “Coisas que não conto a ninguém”, eu escrevi com minha letra grande de sete anos na primeira página do caderno. “Meu pai bate na minha mãe.” Escrevi na segunda página do caderno. Depois de escrever, eu abracei o meu pequeno hipopótamo de pelúcia e chorei. Chorei durante uma meia hora, baixinho, para que ninguém pudesse escutar. No outro dia, quando acordei, tudo estava igual, como se a noite anterior tivesse sido inteiramente tomada por um sono tranquilo. Escrever no caderno era esquecer.
Dois meses depois meus pais se separaram. “Meus pais não se amam mais”, eu escrevi na terceira página do caderno. “Quanto tempo eles continuarão a me amar?” acrescentei logo embaixo. Farol, o hipopótamo de pelúcia me olhava com seus olhos grandes e esbugalhados toda vez que eu tirava o caderno vermelho de dentro do esconderijo e escrevia o que era segredo. “Farol”. Lembro-me de ter escutado essa palavra de meu pai quando tinha cinco anos, não sabia o que era mas parecia um bom nome para um hipopótamo. Um bom nome para o pequeno corpinho roxo e seus grandes olhos esbugalhados. O único que sabia todos os segredos.
Aos dez anos eu cheguei da escola e o hipopótamo não estava mais lá na estante. Minha mãe disse que eu deveria ter esquecido o meu amigo na casa de papai. Eu já sabia que ele tinha fugido. A essa altura os segredos do caderno de segredos já eram muitos e muitos e foi demais para o pequeno Farol. “Farol fugiu” eu escrevi numa das últimas páginas do caderno. Ao lado, coloquei o número dezesseis em azul. Era assim que eu anotava os amigos que perdia. Junto ao número fiz um coração. O hipopótamo foi o melhor amigo que tive.
Três anos depois o número azul já chegava aos trinta e as páginas do caderno chegaram ao fim. Precisava de outro caderno. Usei um presente antigo, ganhei quando tinha meus nove anos, era um diário de capa rosa com flores. Mamãe dizia que era saudável escrever diários. Dessa forma não precisaria mais esconder o caderno. “Esqueci as coisas esquecidas pela segunda vez”. Escrevi na primeira página do novo caderno enquanto a velha capa vermelha virava cinzas num prato de cerâmica. Escrever no caderno era esquecer.
Não me lembro de tudo que escrevi no caderno e nem deveria. Mas algumas coisas marcam como ferro quente e você prefere ficar com a lembrança a aguentar a dor de substituir a pele marcada. Lembro que o caderno de capa rosa durou pouco menos que um ano. Os segredos a serem esquecidos nessa época eram muitos. As pessoas demoravam a mostrar suas garras sangrentas, tirar suas máscaras e quando faziam eram páginas e mais páginas de frases soltas. O número azul crescia a cada dia. “Não consigo confiar nas pessoas que sorriem” escrevi um dia sobre a professora que dizia gostar de mim. Ela contou para minha mãe que eu estava chorando no corredor da escola. Ela mentiu quando disse sorrindo “Vai ficar tudo bem... tudo bem, não contarei a sua mãe, pare de chorar agora, pronto...”. Nunca entendi porque as pessoas faziam isso. Sempre falei a verdade. Um dia me disseram que por isso eu não tinha amigos. Até então o número azul já chegava perto de cem.
Foi estranho quando aos dezesseis anos eu achei que tudo poderia mudar. Mamãe precisou ir morar em outra cidade e me levou junto. Meu pai já havia formado uma nova família. Eu gostava deles. Eles sorriam demais. E meu pai, era o mesmo pai de nove anos atrás mas escrever no caderno das coisas que não se pode contar a ninguém, escrever era esquecer. E queimar era esquecer o esquecido.
Com a cidade nova veio uma escola nova e eu resolvi comprar um caderno novo, na esperança de que durasse o suficiente para nunca ser trocado novamente. Os cadernos da cidade antiga estavam enterrados no quintal da casa antiga no formato de cinzas. O novo caderno tinha uma capa preta e cantoneiras de metal. Era bonito o suficiente para eu não querer queimá-lo. Um esforço inútil. As páginas ficaram cheias antes da primavera. “Não consigo fazer amigos.” “Não consigo olhar para as pessoas nos olhos.” “O cadernos estão tatuados na minha mente, cada frase solta.” Eu rasguei a página dessa última frase. Não fazia sentido pois escrever no caderno era esquecer. E esquecer era seguir em frente. Eu guardei essa última página enquanto meus olhos refletiam as cantoneiras do caderno de capa preta se sujar de cinzas. Achei irônico os fato das cantoneiras não queimarem. Você deveria durar para sempre, não deveria?
Eu não comprei outro caderno depois desse dia. Não estava funcionando. Nunca funcionou. Os cadernos das coisas que não podemos contar a ninguém estavam impressos com tinta permanente em cada parte do meu cérebro. Estavam ilustrados e animados nos meus sonhos e pesadelos mais reais. Escrever no caderno era agarrar os fantasmas do passado.
Minha mãe percebeu que as coisas não andavam bem. Ela me contou que sabia da noite em que eu entrei no quarto dos meus pais. Ela me contou que Farol foi doado um dia antes de eu perguntar por dele. Ela me contou que a professora havia dito muitas coisas além do choro. Ela me contou que leu meu diário, aquele de capa rosa com flores. “Você não pode esconder todas as coisas ruins dentro de você, assim não sobrará espaço para as coisas boas” ela disse. Foi um dia bom. Foi um dia ruim. Eu entendi que escrever nos cadernos era esquecer mas esquecer não significava escrever nos cadernos. Esquecer era não estar escrito em lugar algum além dos cadernos. Não estar escrito na minha mente, nos meus sonhos, nos meus amigos, na minha mãe, no meu pai.
Comprei outro caderno no dia seguinte e sorri para a vendedora. Fiz um colar com as cantoneiras. Fiz amizade com algumas alunas novas que elogiaram meu colar. Encontrei um garoto na livraria e fiz um comentário sobre o livro que ele comprou: não era muito bom. Ele me convidou para um café. Eu vi que as coisas poderia ser diferentes. Esse garoto se mostrou um pouco chato. “O garoto do café não gosta de chocolate.” Eu escrevi e esqueci. Talvez ele pudesse ser legal se eu esquecesse isso. Mas se mostrou ruim em outras coisas assim como a aluna nova do cabelo vermelho, outras coisas que eu não escrevi no caderno, coisas que eu não queria esquecer. Viraram ambos um número azul.
Eu aprendi a seguir em frente. Carregava o passado sujo de fuligem pendurado no pescoço: as duas cantoneiras de metal. Havia aprendido a escrever no caderno. Escrever no caderno era esquecer. Mas eu escolhia o que seria esquecido e nem tudo podia ser apagado. As pessoas poderiam ser como os CDs regraváveis, cujos conteúdos ruins eram apagados dia após dia e os bons reproduzidos repetidamente, ou então, poderiam ter conteúdos tão ruins que nada poderia apagar. Para esses não adiantaria gastar uma página ou duas do meu caderno. Para esses restava o número azul. Assim, essas pessoas também estavam esquecidas, porque escrever no caderno é esquecer, mas não os motivos ruins pelos quais decidi esquecê-las.
Pouco ou muito tempo depois elas poderiam se revelar boas pessoas se conseguissem superar tudo o que não havia sido escrito, mas o tempo não faria a menor diferença pois não havia datas no caderno das coisas que não se pode contar a ninguém. Não havia tempo, nem espaço porque ali dentro o que é tudo se transforma em nada e se transforma em cinzas. Contudo nem tudo pode ser esquecido com um simples deslizar de lápis e canetas pois esquecer não é escrever no caderno. Escrever no caderno, porém, é, definitivamente, esquecer.